Muito além da reprodução da escrita!

No Meu Castelinho brincar é prioridade! Sempre! Acreditamos que a capacidade que as crianças têm de entrar e sair do universo imaginário, o brilho no olhar e a curiosidade que transborda de suas mentes ao se depararem com um ambiente instigante ou uma brincadeira desafiadora, são as matérias primas da Educação Infantil, e revelam o que realmente elas precisam vivenciar no ambiente escolar, pois com o tempo, em função das obrigações impostas ao mundo adolescente e adulto, tudo isso adormece. 

Portanto, a infância precisa ser “protegida” e os educadores do Meu Castelinho são capazes de olhar e enxergar o que é realmente importante nessa fase de desenvolvimento para, acima de tudo, planejar propostas significativas que contemplem e deem conta dessa demanda infantil.  

O cotidiano do Meu Castelinho é planejado e pensado para proporcionar às nossas crianças momentos prazerosos, propostas que estimulem a vontade de buscar conhecimentos e entender como as coisas, as pessoas, ou seja, o mundo funciona. Dentre essas possibilidades estão as atividades relacionadas à linguagem, ou seja, elas têm contato com diferentes recursos linguísticos e, embora a alfabetização não seja a nossa prioridade, pois não aceitamos “roubar” esse tempo precioso delas, acreditamos que muitas capacidades estruturantes podem e devem ser desenvolvidas, desde cedo, para que sirvam de alicerces para o processo de letramento e alfabetização.

O corpo, por exemplo, é o principal instrumento da criança pequena e é através dele que ela pode descobrir o mundo, conhecer as próprias potencialidades e limites, e expressar suas intencionalidades. O corpo revela a principal linguagem das crianças nos primeiros anos de vida e, por meio das interações que estabelecem com o meio, desenvolvem competências essenciais para sua vida e também para o processo de construção da base alfabética.

Quando elas percorrem circuitos motores desafiadores e interessantes, por exemplo, elas constroem, a noção de proporção, de direção, da orientação espacial e aprendem conceitos, como grande/ pequeno, dentro/fora, em cima/embaixo, dentre muitos outros, que serão essenciais para diferenciar a escrita de letras e números. 

Quando têm oportunidade de desenhar livremente, elas percebem os efeitos dos próprios movimentos, exercitam a preensão, a precisão, desenvolvem a coordenação motora manual, a noção de limite e gradativamente o controle dos movimentos a partir da própria intencionalidade, pré-requisitos básicos para aprender a escrever.

Antes de aprender a ler e a escrever as crianças precisam entender a função dessa comunicação, ouvir histórias, cantar, conversar, dialogar, argumentar, expressar-se, desenhar, registrar descobertas, ou seja, aprender recursos e estratégias linguísticas essenciais para o desenvolvimento da escrita. Antes de tudo isso, nomear, juntar e copiar letras não faz nenhum sentido.  Do que adianta desenhar letras e palavras e não saber utilizá-las ao dialogar com seus colegas? 

Comunicar-se é fundamental para o desenvolvimento cognitivo, principalmente ao aprendizado da escrita e da leitura.

Por meio do trabalho de desenvolvimento da oralidade, que aqui no Meu Castelinho acontece de maneira lúdica e constante, as crianças aprendem a distinção entre linguagem oral e escrita, organizam o pensamento e a fala, ampliam o vocabulário, aprendem a explicar, justificar, opinar e argumentar para defender seus pontos de vista e, assim, o contato com a escrita torna-se natural, pois possibilita registrar o que vivenciam ou descobrem. 

Entendemos que o desenvolvimento da linguagem escrita deve acontecer de modo significativo, sempre associado aos contextos sociais e culturais das crianças, em situações nas quais elas possam compreender a função desse tipo de comunicação, sintam vontade de interagir e de participar do mundo letrado.

Desde cedo, as crianças da Educação Infantil têm contato de modo natural com o próprio nome, a escrita mais significativa para elas, pois revela sua própria identidade. Gradativamente elas passam a identificar a sequência de letras nos cabideiros das salas para pendurar suas mochilas, nos nichos onde guardam diariamente seu material, nas etiquetas dos próprios pertences para reconhecê-los perante aos demais, na identificação de seus desenhos e trabalhos – onde a escrita é realizada inicialmente pelas educadoras até que as crianças revelem a vontade de começar a escrever o próprio nome.

Nos momentos de histórias, elas começam a perceber que um “aglomerado de símbolos” revelam enredos incríveis, descobrem alguns padrões de semelhança entre as letras presentes na escrita do título e nos próprios nomes e de seus colegas e, assim, de modo prazeroso e envolvente o mundo letrado abre as portas para as crianças. 

A partir do contato diário com diversos gêneros textuais e com situações práticas de registros sobre as vivências e conhecimentos, a vontade de ler e escrever vai “brotando” nas crianças e nós, educadores, então abrimos cada vez mais oportunidades para que elas possam interagir através das letras, em propostas diversas como Culinárias, Construções com letras móveis de palavras conhecidas de histórias, Experiências artísticas e muitas outras!

O processo de letramento no Meu Castelinho em nada tem a ver com a Alfabetização tradicional, que privilegia uma escrita descontextualizada, distante da realidade e mecânica, porque desde cedo, as crianças são convidadas a usar essas habilidades de modo funcional e competente, o que permite aos nossos pequenos estudantes não apenas aprender a ler e a escrever, mas a compreender, interpretar e transformar o mundo.

Laís Rosane Ribeiro dos Santos
Coordenadora Pedagógica.